Álcool, Saúde e Nutrição: Quando aqueles drinks a mais te cobram o preço

   Alguma vez você já se perguntou se estaria bebendo demais? 

   Talvez essa dúvida já passou por sua cabeça, quando acordou indisposto e com dor de cabeça, na manhã seguinte ao encontro com amigos, regado à cerveja e à chopp. Ou então você já tenha concluído que as duas taças de vinho (que às vezes se tornam três ou quatro) depois do trabalho não são um problema; você tem amigos que bebem mais, pode pensar. De uma forma ou de outra, sendo hábito seu ou não, o consumo de bebida alcóolica é um comportamento presente à nossa volta. Por isso, nada mais justo que reservar alguns minutos para refletir sobre o assunto, concorda?

   Historicamente, os homens são conhecidos como os principais consumidores de bebida alcóolica, e também são maioria entre aqueles com problemas de dependência e de uso abusivo de álcool. Contudo, dados recentes trazem luz a um novo problema: mais mulheres estão ingerindo álcool, e os índices de consumo abusivo entre elas apresentou um aumento preocupante.

   Finalizando dois anos de Pandemia, sentimos a nível coletivo e individual as repercussões da Pandemia da Covid-19. Junto ao agravamento de sintomas de ansiedade e de depressão, a compra de bebidas alcóolicas no mundo aumentou exponencialmente em meio ao contexto de estresse e de isolamento social. Pesquisas indicam que grande parte da população, em especial as mulheres, passou a consumir álcool como estratégia de enfrentamento às emoções e aos sentimentos desconfortáveis, como medo, tédio, tristeza e ansiedade. Sendo uma substância depressora do sistema nervoso central, o álcool pode agir causando uma sensação temporária de relaxamento. Porém, importante ressaltar de que a ingestão de álcool com esta finalidade é “um tiro no pé”: é amplamente comprovada a associação entre o uso de álcool e transtornos mentais, o qual contribui com o desencadeamento e agravamento de sintomas depressivos e ansiosos.

   Uma vez que o consumo de bebida alcóolica faz parte da nossa cultura, pode ser fácil esquecer de que o álcool se trata de uma substância psicoativa essencialmente tóxica ao nosso organismo. A ingestão de álcool está associada a mais de 200 doenças e a danos resultantes dos efeitos da substância. É fator de risco modificável para diversas doenças crônicas, como câncer, transtornos psiquiátricos e doenças cardiovasculares, hepáticas e neurológicas. O consumo excessivo de álcool também enfraquece o sistema imunológico, deixando o corpo humano mais susceptível a infecções e a suas complicações, o que se torna especialmente perigoso em tempos de pandemia.

   Embora não tão falados, os prejuízos nutricionais são alguns dos principais problemas do excesso de álcool. Muita gente não sabe, mas o álcool apresenta um alto valor energético, fornecendo 7,1 kcal por grama de etanol, sendo, inclusive, mais calórico que proteínas e carboidratos. Não seria um problema tão grande se ao menos o álcool tivesse algum valor nutricional a oferecer. Também não é à toa que tendemos a escolher alimentos mais calóricos e ricos em açúcar e em gordura para acompanhar a rodada de drinks. Além de afetar o controle de impulsos e de tomada de decisões, em doses moderadas o álcool atua estimulando o apetite e reduzindo nossos sinais de saciedade. Dessa forma, o consumo social de bebidas alcóolicas está diretamente associado ao ganho de peso e às complicações decorrentes do mesmo. E pior: os quilos adquiridos insistem em se concentrar na região abdominal.

   Por outro lado, a desnutrição e a piora dos hábitos alimentares prevalecem à medida que se aumentam a frequência e a quantidade de álcool consumida. Quando a ingestão de álcool é cronicamente elevada, como normalmente ocorre entre alcoolistas, o efeito tóxico do álcool altera o metabolismo de hormônios e de nutrientes, causando deficiências nutricionais, inibição do apetite e perda de peso, principalmente de massa muscular. Mas não se engane: o emagrecimento induzido pelo excesso de álcool é totalmente o oposto do que entendemos por saudável. A desnutrição é um dos principais fatores de risco para mortalidade em doenças causadas pelo abuso de álcool.

   Mas, afinal, o que é beber em excesso? A recomendação por órgãos de saúde é de que o consumo de bebidas alcóolicas por homens seja de, no máximo, 2 doses em um único dia, e de até 14 doses por semana. Para as mulheres, as doses máximas caem pela metade. Ultrapassando esses limites, os riscos para os efeitos deletérios do álcool aumentam significativamente. E caso não saiba, a dose de referência contém 14 gramas de etanol, o equivalente a 350 ml de cerveja ou de chopp; a uma modesta taça de vinho (150 ml); ou a 45 ml de destilados. 

   Alguns podem pensar que o consumo de bebida alcóolica só é problemático quando ocorre diariamente ou com grande frequência, mas a ciência mostra que não é bem assim. Aqueles que ingerem grandes quantidades de álcool em ocasiões específicas, como aos finais de semana, apresentam tanto ou maior risco de prejuízos à saúde. Também conhecido como binge drinking, consumo abusivo ou beber pesado episódico (BPE), é definido como a ingestão em poucas horas de aproximadamente 4 doses ou mais (≥60g de etanol puro) em uma mesma ocasião.

   Considerando essas informações, as latinhas de cerveja, taças e drinks a mais ingeridas são colocadas em outra perspectiva, não é mesmo? Caso você identifique que tem exagerado no consumo de bebida alcóolica, ou que a sua relação com o álcool está te trazendo prejuízos físicos, mentais ou sociais, peça ajuda! Não minimize a situação, nem deixe para depois. Sua vida é um preço muito caro a se pagar.

Por Luiza Cortinovi

REFERÊNCIAS

Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2021 / Organizador: Arthur Guerra de Andrade. 1. ed. – São Paulo: CISA, 2021. Acesso: 30 janeiro 2022. Disponível em: https://cisa.org.br/index.php/biblioteca/downloads/artigo/item/304-panorama2021

GARCIA, Leila Posenato; SANCHEZ, Zila M. Consumo de álcool durante a pandemia da COVID-19: uma reflexão necessária para o enfrentamento da situação. Cad. Saúde Pública, 2020.

KACHANI, Adriana Trejger; BRASILIANO, Silvia; HOCHGRAFF, Patrícia Brufentrinker. O impacto do consumo alcóolico no ganho de peso. Rev. Psiq. Clín 35, supl 1; 21-24, 2008.

*Imagem retirada do material Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2021.