O que é etarismo e por que precisamos falar sobre esse preconceito

Você é uma “coroa” em forma para a sua idade. Tão jovem e tem um rosto tão acabado. Frases como essas são exemplos de etarismo, que é o preconceito relacionado à idade da pessoa.

O termo etarismo deriva do inglês ageism, cunhado pelo gerontologista Robert Butler em 1969. A palavra segue a mesma lógica de outros preconceitos como racismo e sexismo, sendo que aqui o preconceito se dirige principalmente para pessoas com 60 anos ou mais – faixa etária considerada idosa no Brasil, conforme o Estatuto do Idoso.

Também conhecida como ageísmo e idadismo, a discrminação etária tem se ampliado muito no Brasil e no mundo, e é praticada principalmente contra mulheres, idosas ou não.

Para você ter uma ideia, o estudo divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2021 mostra que 16,8% dos brasileiros com idades a partir de 50 anos – antes de ser considerado idoso – já foram vítimas de comentários pejorativos relacionados à idade.

A apresentadora Eliana, atualmente com 48 anos, recentemente fez este post em seu Instagram pessoal falando sobre o assunto. Destaco uma parte do texto que gostei muito: 

Toda pessoa tem o direito de envelhecer sem precisar ouvir comentários maldosos! Ficar mais velha significa se tornar mais madura, sábia e segura. E isso é lindo!

Na mesma linha de raciocínio da Eliana está a atriz Cristiana Oliveira, de 58 anos. Ela que está em destaque atualmente por conta do sucesso do remake da novela Pantanal, da TV Globo.

Em entrevista para o site AnaMaria Digital, Cristiana afirmou que a beleza da velhice é passar adiante os ensinamentos da vida. “Envelhecer é um privilégio e não adianta ofender alguém, e chamar de velha, se você vai envelhecer também. Você vai gostar de ouvir isso de uma forma pejorativa?”, acrescentou.

Envelhecer é bom sim, e envelhecer com saúde é melhor ainda. Esse deve ser o foco!

Os riscos da discriminação etária

A discriminação etária prejudica a autoestima de quem é vítima, podendo causar uma série de distúrbios na saúde física e, principalmente, mental. A pessoa alvo de etarismo está mais sujeita a se sentir incapaz, desamparada e desenvolver quadros de ansiedade e depressão.

Outras doenças crônicas que pessoas idosas e vítimas do ageísmo frequentemente sofrem são doenças cardiovasculares, artrites e declínio cognitivo que pode causar demência e Alzheimer.

Em um cenário macro como a vida em sociedade, o etarismo retira oportunidades de trabalho da população idosa, que infelizmente é considerada por muitos gestores de empresas como pessoas incapazes e que a qualquer momento poderão ter problemas de saúde que podem prejudicar o andamento dos negócios.

No entanto, é importante entender que a discriminação etária não ocorre apenas nas relações interpessoais. O etarismo está presente em diversas instituições e empresas no Brasil, inclusive nas que atuam no ramo da saúde.

Por exemplo: São comuns os casos em que hospitais ou planos de saúde se recusam a realizar ou cobrir determinados procedimentos em idosos.

Antes da vacinação contra covid-19 ser massiva no Brasil, a crise na saúde pública “obrigou” muitas instituições a escolherem quem deveriam entubar nos casos graves da doença. O resultado? A população idosa foi deixada de lado, pois a ordem era fornecer oxigênio às pessoas mais jovens, sob o argumento de que teriam mais chances de sobreviver.

Triste e revoltante, você não acha? E pensar que esse tipo de tomada de decisão se fortalece todos os dias em pequenos atos do cotidiano, como frases e comentários preconceituosos nas relações familiares, entre amigos e nas redes sociais.

Etarismo com jovens é possível?

Eu sei, parece contraditório que uma pessoa jovem seja alvo de discriminação etária, mas essa é uma triste realidade global.

Mas, como falei antes, as vítimas não são apenas idosas, idosos e pessoas com idades próximas a 60 anos. Se você é mulher, então, as chances de ser vítima de etarismo desde cedo são ainda maiores.

A discriminação etária funciona de várias formas. Algumas situações explícitas, outras veladas.

O etarismo com jovens mulheres é comumente visto pela população e pela grande mídia como “elogios”, escondendo uma triste verdade muito pior: a sexualização de crianças e adolescentes a partir do estímulo para que pareçam mais maduras e ajam como adultas precocemente.

Um exemplo de vítima dessa abordagem é atriz Millie Bobby Brown, a Eleven de Stranger Things, série da Netflix. Atualmente com 18 anos, ela fez um desabafo em seu Instagram quando completou 16 anos.

Millie afirmou que fica frustrada por conta dos comentários inapropriados, insultos desnecessários e a sexualização que fazem com ela. De acordo com a atriz, isso lhe causou muita dor e insegurança.

A superação do etarismo feminino

Antes citei personalidades brasileiras, mas também aproveito para trazer uma quebradora de recordes para esse texto. Sandra Bullock, atualmente com 58 anos, ficou um tanto esquecida para filmes em que não atuasse como dubladora.

Foi em 2018 que o jogo virou. Ela estrelou Bird Box, um sucesso da Netflix que por muito tempo ostentou o feito de filme mais assistido da plataforma, e então voltou a ser requisitada. No começo de 2022 ela fez uma crítica à indústria cinematográfica em geral, mas que também passa pelo etarismo.

Sandra acredita que não fosse pela Netflix, ela e muitos outros talentos não estariam trabalhando: Quem pensaria que eu, como mulher, ainda estaria trabalhando à essa altura? Eu teria sido jogada no pasto com as vacas. É verdade”, provocou.

Após o sucesso com Bird Box, a carreira de Sandra Bullock decolou novamente. A atriz estrelou o longa Cidade Perdida, filme lançado em abril de 2022 e que já arrecadou mais de US$ 100 milhões em bilheteria.

Como combater o etarismo

Como vimos, tanto o etarismo praticado contra idosos, como o preconceito contra mulheres e pessoas mais jovens pode trazer graves consequências à saúde. A baixa autoestima, por exemplo, pode motivar as pessoas a passarem por procedimentos estéticos desnecessários, colocando suas vidas em risco.

Por isso, falar sobre etarismo é fundamental, pois só é possível combater o preconceito quando se sabe que ele existe.

A superação do ageísmo é uma questão cultural. Ou seja, a educação é essencial para que as pessoas respeitem os mais velhos e vejam as pessoas idosas como fonte de aprendizado e inspiração.

Isso precisa ser estimulado dentro de casa, no convívio familiar, inclusive com crianças desde a primeira infância. Afinal, é preciso que todo mundo almeje envelhecer com saúde e disposição, mas isso só é possível se a população idosa não for estigmatizada.

A expectativa de vida tende a continuar aumentando em diversos países desenvolvidos. Apesar da crise humanitária que o Brasil viveu a partir da pandemia de covid-19, a expectativa de vida por aqui também aumentou.

O último levantamento do IBGE, realizado em 2020, estimou que viveremos em média 76,8 anos. A média para as mulheres é de 80,3 anos, enquanto para os homens é de 73,3 anos de vida.

Ou seja: seremos idosos!

Então, eduque seus filhos e seja respeitoso com quem tem mais idade que você, pois um dia você também será uma pessoa idosa. Lembre-se: respeitar o idoso é tratar o próprio futuro com amor e respeito!

Por Alysson Mainieri